Considerada a maior mostra sobre o modernismo brasileiro já realizada, a exposição reúne mais de 300 obras e documentos inéditos sobre a intimidade dos artistas e pensadores modernistas em uma celebração ao centenário da Semana de 22.
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Há quase 100 anos, alguns dos maiores nomes da arte brasileira se reuniam no Theatro Municipal de São Paulo para uma grande exposição de suas obras, fossem elas pinturas, esculturas, desenhos ou poemas. O que não imaginavam é que estavam a presenciar um dos eventos mais reconhecidos da cultura nacional.
Nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, pintores, poetas, arquitetos, músicos e escritores se reuniram para celebrar os 100 anos da independência do Brasil, mas, mais do que isso, queriam proclamar a arte, que até pouco tempo se prendia ao passado, também independente. Por convenção, o encontro de três dias foi classificado como uma semana.
O modernismo não nasceu ou acabou ali, entretanto, o evento ficou marcado por reunir figuras tão importantes para o movimento, como Anita Malfatti, Mário de Andrade, Di Cavalcanti e Victor Brecheret. E foi pensando nisso que, o Centro Cultural Fiesp (CCF), em parceria com o Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB/USP), trouxe ao número 1313 da Avenida Paulista a exposição Era Uma Vez o Moderno [1910-1944], que comemora o centenário da Semana de Arte Moderna.
Entre as obras expostas na mostra que também marcaram presença na Semana de 22, encontramos O Homem Amarelo (1917), um dos mais conhecidos de Anita Malfatti, A Cabeça de Cristo (1919/20), escultura de Victor Brecheret e Retrato de Moça (1921), quadro de Di Cavalcanti.
A exposição reúne também diários, cartas, manuscritos, fotos e obras de outros artistas e intelectuais que fizeram parte de diversas iniciativas em torno da implantação de uma arte moderna no Brasil, entre 1910 e 1944. O público revisita três décadas dessa história, além de conhecer as produções dos autores e pensadores que participaram da Semana de Arte Moderna, através de mais de 300 obras e documentos, fazendo a exposição ser considerada a maior sobre o movimento.
A grande maioria das obras pertence ao IEB, instituição que guarda o maior acervo sobre o modernismo no país, e já foram um dia de Mário de Andrade, visto que, a coleção pessoal do artista foi vendida a USP.
O público encontra as obras e reflexões de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Manuel Bandeira, Cícero Dias, Di Cavalcanti, Osvaldo Goeldi, Ismael Néry, Guilherme de Almeida, Gilberto Freyre, entre muitos outros. A exposição pretende mostrar a dimensão humana das mulheres e homens que participaram do debate em torno da possibilidade de se fazer uma arte moderna no Brasil, assim como a diversidade de manifestações e direções do que se convencionou chamar de modernismo brasileiro.
Era Uma vez o Moderno entrou em cartaz no dia 10 de dezembro de 2021 e segue aberta à visitação gratuita até 29 de maio de 2022. Quem preferir programar a visita deve acessar o site do Sesi.
A curadoria da mostra é do professor e pesquisador do IEB/USP, Luiz Armando Bagolin, e do historiador Fabrício Reiner. A exposição, que é a maior sobre o modernismo brasileiro já realizada no mundo, tem como proposta apresentar uma sequência de fatos históricos e culturais por meio das próprias vozes, influências e até mesmo dos dilemas e conflitos dos artistas que viveram o modernismo.
Coube ao Sesi-SP a restauração de todo o acervo do IEB/USP no que diz respeito às obras de artistas, intelectuais e pensadores modernistas.
Em uma faixa de tempo que compreende os anos de 1910 a 1944, o público mergulha na intimidade daqueles que construíram este movimento cultural a partir da leitura de cartas como, por exemplo, aquela escrita por Mário de Andrade para Tarsila do Amaral, em 1929, na qual ele comunicava o rompimento da relação de amizade com o também modernista Oswald de Andrade.
Os visitantes podem conhecer o diário de Anita Malfatti, de 1914, que registra os preparativos da sua primeira exposição individual, realizada em São Paulo. E para a experiência ficar ainda mais real, quem for até o CCF poderá assistir a vídeos protagonizados por atores que interpretam alguns artistas modernistas em momentos importantes de suas vidas bem como da história do movimento cultural.
Em um dos corredores da exposição, o personagem virtual de Mário de Andrade lê um trecho do livro Pauliceia Desvairada (1922), durante a segunda noite da Semana de Arte Moderna. Na ocasião, nervoso, o poeta tremia de timidez. Em outro momento, a figura de Manuel Bandeira, interpretada no vídeo pelo ator Nilton Bicudo, lê uma carta que o poeta pernambucano escreveu e destinou a Mário de Andrade, criticando o movimento Pau Brasil, de Oswald de Andrade, num momento cheio de humor.
Em outros dois pontos relevantes da mostra, o personagem virtual de Tarsila do Amaral lê uma carta datada de 1920, na qual, de Paris (França), escreveu para Anita Malfatti relatando seus primeiros encontros com a arte moderna, em particular, com o futurismo italiano de Umberto Boccioni, que então a escandalizou.
A obra O Mamoeiro, de Tarsila do Amaral, finalizada em 1925, também estará exposta na Avenida Paulista.
O tom melancólico de Mário de Andrade nas palavras que estão no bilhete escrito e nunca enviado por ele a Manuel Bandeira, em 1944, mostra a preocupação do artista no convertimento dos seus colegas modernistas pelo Estado Novo, de Getúlio Vargas.
Também é possível conhecer os objetos, diários e fotos que foram resultados de suas viagens à região Amazônica e às cidades do Norte e Nordeste do Brasil, comprovando o interesse de Mário de Andrade pela pesquisa de caráter etnográfico.
A mostra traz algumas das manifestações apresentadas na Semana de Arte Moderna irmanadas pelo desejo de ruptura com a arte do passado e pretende apresentar a correspondência entre as obras dos artistas com as cartas, os manuscritos e os demais itens do acervo pessoal deles. “Nossa proposta de linha do tempo tem início em 1910 com os registros que farão o público conhecer um pouco da primeira exposição brasileira da artista alemã Emma Voss, que pela primeira vez trouxe para o Brasil obras que tiveram relação com as primeiras vanguardas artísticas europeias", explicou Bagolin.
Ao longo da exposição, há à disposição do público áudios acessíveis por QRCODE com comentários e análises feitas pelo curador, além de outras informações históricas e reproduções em formato digital dos documentos e cartas presentes na exposição. Tudo para que ninguém perca nenhum momento importante desta incrível história.